Faleceu, nesta terça-feira (13), aos 89 anos, o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, um dos líderes políticos mais irados da América Latina nas últimas décadas. A morte foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, por meio das redes sociais. Mujica estava em cuidados paliativos, após suspender o tratamento de um câncer no esôfago, diagnosticado no final de 2023.
“É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e companheiro. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor pelo povo”, escreveu Orsi em seu perfil no X (antigo Twitter).
Em janeiro deste ano, Mujica revelou que a doença havia se espalhado pelo corpo e que não seguiria com os tratamentos. Desde então, ou a receber cuidados paliativos em casa, acompanhado pela esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky. Conhecido por sua serenidade diante da vida e da morte, Pepe disse em entrevista: “Pertencemos ao mundo dos vivos, nascemos destinados a morrer. Por isso, a vida é uma aventura maravilhosa. Mais de uma vez, a morte rondou minha cama. Desta vez, parece que vem com a foice em punho. Vamos ver o que acontece.”
Vida dedicada à luta política e à simplicidade
José Alberto Mujica Cordano, o Pepe Mujica, nasceu em 1935, em Montevidéu, onde viveu por toda a vida. Iniciou sua militância política no Partido Nacional, onde chegou a ser secretário-geral da juventude. Na década de 1960, porém, se uniu ao movimento guerrilheiro Tupamaros, que combatia a ditadura militar uruguaia. Por sua atuação política, ou cerca de 14 anos preso, boa parte deles em regime de isolamento.
Com a redemocratização do país, Mujica foi anistiado e ajudou a fundar o partido Frente Ampla, pela qual foi eleito deputado, senador, ministro da Agricultura e, finalmente, presidente da República, exercendo o cargo entre 2010 e 2015. Durante seu governo, ficou conhecido por adotar um estilo de vida austero e humilde: morava em uma pequena chácara nos arredores de Montevidéu, dirigia um fusca azul e doava grande parte do seu salário presidencial a instituições sociais. Seus discursos, sempre voltados à ética, solidariedade e ao bem comum, o tornaram uma referência internacional.
Mujica foi também um defensor ferrenho da democracia, da paz e dos direitos humanos. Sua presidência ficou marcada por avanços progressistas, como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a ampliação de políticas sociais em território uruguaio.
Legado
Com a morte de Pepe Mujica, o Uruguai e a América Latina perdem uma de suas vozes mais coerentes, humanas e inspiradoras. irado dentro e fora do continente, ele deixa como legado uma trajetória marcada por resiliência, coerência ideológica, generosidade e compromisso com os mais pobres. Seu velório e homenagens oficiais devem ocorrer em Montevidéu.