Um dos grandes nomes da educação em Monlevade e região, que por décadas lecionou, promoveu a educação, a arte e a cultura, além de ter dirigido e ajudado a construir instituições de ensino, Vicente Soares é uma figura emblemática na história do município.
Na última segunda-feira (26), ele completou 90 anos de vida, metade desses, dentro de salas de aula, contribuindo para a formação de gerações. O professor Vicente dispõe de uma notável memória sobre fatos, casos e histórias de Monlevade e região. Sua trajetória pessoal e profissional entrelaça-se profundamente com o desenvolvimento educacional e cultural da cidade. Em sua casa, ele conversou com o editor Erivelton Braz.

Formação e Vocação

Nascido em Belo Horizonte “por acidente”, como disse (o pai trabalhava na capital), ele tem a família natural de Barão de Cocais. Vicente iniciou a sua formação religiosa no seminário menor de Mariana, onde concluiu os estudos secundários. Posteriormente, ainda muito jovem, viveu por um breve período no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. As experiências moldaram sua visão humanista e disciplinada da vida. “Quase fui monge. Tinha o coração alegre e feliz no mosteiro, mas fiquei doente e aí voltei para casa”, relembra.

No início da década de 1960, ele se estabeleceu em João Monlevade e começou a lecionar no então “Grupo de Tábuas”. Contratado pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, Vicente Soares iniciou sua vida dedicada à educação, atuando como professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.

Anos mais tarde, assumiu também as aulas no Ginásio Municipal e a direção do Colégio Estadual, cargo que ocupou até 1984. Ao longo de todos esses anos, buscou a formação superior, que inclui graduação em Letras e Pedagogia, além de pós-graduação em Metodologia de Ensino e Direção Escolar. O professor Vicente conta também que contribuiu para a formação de outras escolas em Monlevade, como o Centro Educacional e o Colégio Kennedy, fundado pelo amigo Padre Henriques, onde também lecionou.

Com formação erudita, ele fala dos livros, gramáticas e Bíblias, que leu e que ainda possui, em grego, hebraico e latim. Essa última língua, ele também lecionou para os cursos de Direito e Letras, na então Fundação Educacional de João Monlevade (Funcec). “Os alunos de letras precisam saber latim. E profissionais do direito devem saber não só o que significam, mas a formação e a história dos institutos e o porquê dos termos como Habeas Corpus, Usucapião, Periculum in mora, data vênia”, afirma.

Atuação na Música Coral

A paixão de Vicente pela música o levou a desempenhar um papel central na cena cultural de João Monlevade. Entre 1966 e 1973, foi regente do Coral Monlevade, período em que o grupo participou de concertos e festivais em cidades como Belo Horizonte, Ouro Preto e Vitória. Durante sua gestão, foram registrados os primeiros estatutos do coral, consolidando sua estrutura organizacional.

Além disso, Vicente Soares cofundou e regeu o Coral “Arte das Artes”, criado inicialmente pela Funcec. Com o tempo, o grupo tornou-se autônomo, mantendo-o como seu regente titular. Homem de hábitos simples, ele vive cercado por livros e por música em sua casa em Carneirinhos. Trompetista na adolescência, também toca piano e teclado, e conserva os instrumentos em casa, onde toca de vez em quando.

Reconhecimento e Legado

Em reconhecimento às suas contribuições, Vicente Soares foi agraciado com a Medalha de Honra ao Mérito Cultural “Leonardo Diniz Dias” pela Câmara Municipal de João Monlevade, em 2022. Sua dedicação à educação e à cultura deixou um legado duradouro na cidade, inspirando gerações de estudantes e músicos.

Vida em Família

Casado desde 1968 com Guiomar de Menezes Soares, que foi enfermeira-chefe do Hospital Margarida e diretora da Escola de Enfermagem que havia em Monlevade, o casal tem quatro filhas: Fabiana de Menezes Soares, Luciana de Menezes Soares, Adriana de Menezes Soares e Daniela de Menezes Soares.

A vida de Vicente Soares é um testemunho do impacto positivo que um educador e artista comprometido pode ter em sua comunidade, promovendo o desenvolvimento intelectual e cultural de João Monlevade. Tanto que o professor Vicente está sempre na memória daqueles que foram seus alunos — e dos que ainda são, já que as conversas com ele sempre são grandes aulas. Aos mais jovens ele deixa um recado: “Nunca deixem de estudar. Só a educação tem capacidade de transformar vidas”, ensina.