A medicina em João Monlevade possui nomes pelos quais pode orgulhar-se. Um deles é o do cirurgião, obstetra e ginecologista Custódio Alvarenga, que completa 88 anos de vida no próximo mês de julho. Vivendo e trabalhando em João Monlevade desde 1967, ele conquistou a iração de pacientes e amigos em mais de meio século de atuação na cidade. Conheça mais sobre sua trajetória de vida dedicada à promoção à vida e à saúde.
O doutor Custódio (foto) nasceu em 26 de julho de 1937 em Perdões, no sul mineiro, sendo o mais velho de oito filhos. O pai dedicava-se à agricultura, e depois foi aprovado num concurso da Receita Federal. As primeiras letras foram aprendidas no porão da fazenda, ensinadas por uma tia e compartilhadas com os filhos dos trabalhadores.
Estudos
Aos 12 anos, muda-se para Lavras, para estudar em regime de internato no tradicional Instituto Gammon, numa fase difícil para um garoto em tão tenra idade: “Chorava todos os dias”, lembra. Uma anedota desse período ocorreu quando um professor anunciou que todos os alunos haviam obtido nota zero em um exame, exceto dois. Ao receber o seu teste, Custódio ficou em dúvida: fora mais um dos reprovados ou conseguira uma nota seis? Envergonhadamente, perguntou ao mestre, que lhe respondeu que fora um dos dois afortunados, sendo o outro, o futuro médico Lucrécio Assis, que também se mudaria para João Monlevade anos mais tarde.
Os estudos prosseguiram, e Custódio estudou em Oliveira e Perdões, antes de dirigir-se a Belo Horizonte para matricular-se noutra instituição de prestígio: o Colégio Santo Antônio. Em 1955, aos 18 anos, consegue ser aprovado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, duas cobiçadas casas de estudos, optando pela primeira.
Formação
Os anos de universidade foram de modéstia financeira e muita dedicação: em paralelo aos estudos, Custódio trabalhava e literalmente residia dentro do hospital, o que lhe permitiu conhecer de perto a rotina de atendimento, praticando o que aprendia. Em 1961, graduou-se, cumprindo o sonho de sua mãe de ter um filho médico, um “doutor” em casa.
Logo após a formatura, o jovem médico partiu para seu primeiro emprego, em Barão de Cocais. Ali, ele já enfrentou seus primeiros desafios: “Lembro-me de uma menina que ficou entre a vida e a morte com difteria. Na época, a vacina estava começando. Nós lutamos durante dias, mas ela sobreviveu e como sinal de exaustão eu caí e fui socorrido”. Outra ocorrência foi a de um homem atingido por um trem enquanto caminhava pela ferrovia, e que sobreviveu depois de longa luta pela vida.
Monlevade
Em 1967, o doutor Custódio veio trabalhar em João Monlevade, servindo no Hospital Margarida e como médico da então Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (CSBM). Ali, desenvolveu uma relação de proximidade com os operários, que lhe entregavam os cuidados sobre suas esposas e seus filhos: “Eles sentiam que podiam confiar nos médicos”. O médico também relembra que a companhia se empenhava em evitar os acidentes de trabalho.
Mas, o período em João Monlevade também teve desafios. Um deles ocorreu em 1977, quando uma infecção obrigou ao fechamento da maternidade do Hospital Margarida durante um mês. As instalações do hospital foram revisadas e vários equipamentos atualizados para prevenir sempre. Quando a maternidade reabriu suas portas, o primeiro bebê a nascer foi o filho de dona Maria Alvarenga, irmã de Custódio: “A balança do hospital ainda não estava pronta. Não sei com que peso meu filho nasceu”.
Ao longo de mais de seis décadas de atuação, o doutor Custódio Alvarenga participou de muitas transformações e avanços na medicina. Um deles, explicado por sua irmã Maria, foi a mudança na incisão das cesarianas. Antes, o corte era feito na vertical, ando pelo umbigo: “As mulheres se sentiam envergonhadas de usar biquíni ou maiô”. Hoje, a abertura é horizontal, muito abaixo do umbigo, conservando a saúde de mãe e filho e a estética feminina.
Tradição em família
Custódio é casado com Vanda Tavares Alvarenga, dona-de-casa e sua secretária. Eles possuem três filhos médicos: João Carlos, Marcos e Cristiane. A quarta filha, Denise, é bancária da Caixa Econômica Federal (CEF). O sobrinho Tales Alvarenga, também médico, relata a dedicação de seu tio: “Ele está sempre pesquisando. Outro dia, eu lhe indiquei um artigo científico, e ele já havia lido”.
Política
A confiança conquistada ao longo das décadas permitiu uma incursão pela política. O doutor Custódio Alvarenga foi vice-prefeito durante a segunda gestão de Germim Loureiro (PMDB, 1983-1988), e comandou a Secretaria de Saúde: “Tivemos várias pequenas realizações. Creio que tenhamos dado nossa contribuição à cidade”.
Na ativa
Mesmo prestes a completar 88 anos, o doutor Custódio mantém-se ativo na prática médica. Apesar de não dar plantões, continua trabalhando no Hospital Margarida e em seu consultório. Mesmo com um ritmo mais suave, ele permanece sendo muito requisitado: “Trato os filhos de meus antigos pacientes. Às vezes, chegam netos de pessoas das quais já cuidei”. Ele encerrou sua participação em partos no ano ado, e agora planeja a sua aposentadoria: “Se ele pendurar o jaleco, toda a família irá se consultar com ele”, diz Maria.
Esporte
Custódio também é um exemplo de perseverança e inspiração para o esporte. Em maio, o Embaúbas Tênis Clube realizou um torneio de tênis em homenagem à história de superação e amor de doutor Custódio pelo esporte. Ainda na infância, aos 10 anos, ele foi diagnosticado equivocadamente com um sopro no coração e proibido de praticar atividades físicas. A notícia foi devastadora para um menino apaixonado por futebol. Mas o destino lhe reservou uma nova oportunidade. Aos 12 anos, ao ingressar no Instituto Gammon, o erro foi desfeito e o esporte ou a ocupar um lugar fundamental em sua vida.
Desde então, ele mergulhou de cabeça em diversas modalidades: jogou basquete, pingue-pongue, xadrez, peteca, até se encantar definitivamente pelo tênis, paixão que cultiva até hoje. Além de atleta, sempre se destacou como um incentivador das novas gerações, promovendo e defendendo a prática esportiva numa época em que poucos compreendiam sua importância.
Reconhecimento
Mas a legião de iradores conquistada pelo doutor Custódio Alvarenga não se restringe apenas aos seus pacientes e praticantes do esporte. A presidente da Associação Médica de João Monlevade (AMJM), a pediatra Anna Beatriz Dutra Valente Costa, o conheceu em 1993, quando ele era secretário de Saúde e João Monlevade vivia uma escassez de médicos. Foi a convite de Custódio que ela veio residir em João Monlevade.
A doutora Anna Beatriz enaltece a sua biografia: “O dr. Custódio é um profissional exemplar, mas, acima de tudo, um ser humano irável. Tive o privilégio de acompanhá-lo em salas de parto, de observar seu carinho com as pacientes, seu respeito, seu cuidado e zelo durante as cirurgias. Com ele, aprendi muito — não apenas sobre medicina, mas sobre a vida. Ele é pai de quatro filhos, três deles também médicos, o que já diz muito sobre a inspiração que ele representa. Um desses filhos, o João, é nosso amigo pessoal, por quem temos muito carinho. Ao longo dos anos, pude ver no dr. Custódio um excelente pai, um marido dedicado e um avô amoroso, que hoje me inspira também no papel de avó — desejo ser para os meus netos o que ele é para os dele”.
Flávia Nastrini conta que sua família é um exemplo das gerações cuidadas pelo doutor Custódio Alvarenga: “Dr. Custódio tem grande representatividade em nossa cidade e em toda a região! Na saúde, na vida, no esporte, nas famílias e, especialmente, em nossa família, em três gerações. Cresci com a minha avó Norma e minha mãe Miriam sempre o elogiando. Eu e minha irmã Silvia nascemos pelas mãos do dr. Custódio, assim como meus dois filhos, Henrique e Stella. Seus exemplos, suas palavras, seus conselhos, sua sabedoria, são iráveis e temos muita gratidão e carinho por ele! Realmente é uma pessoa irável! Um privilégio conviver com dr. Custódio, dona Vanda e seus filhos”.
Outro colega a elogiá-lo é o doutor Antônio Gabriel de Vasconcelos Costa: “Dr. Custódio Alvarenga é uma pessoa constituída por uma combinação rara de simplicidade, humildade e sabedoria. Tem ainda uma outra virtude escassa nos tempos atuais: disponibilizar seu tempo para ouvir e acolher as pessoas. Ele se constituiu para nós em referências pessoal e profissional”. A doutora Anna Beatriz completa: “Dr. Custódio é, sem dúvida, um dos maiores expoentes da medicina em João Monlevade e também uma presença espiritual marcante na minha vida. A ele, minha eterna gratidão e o meu profundo carinho”.
A iração também é compartilhada pelo médico Laércio Ribeiro, que cumpre o seu terceiro mandato como prefeito de João Monlevade. Ele enaltece a trajetória profissional e política de Custódio Alvarenga: “Conheço o dr. Custódio desde minha chegada a João Monlevade, em 1976. Ao longo de mais de quatro décadas, tivemos a oportunidade de trabalhar lado a lado no hospital. Ele sempre se destacou não apenas como um excelente profissional da saúde, mas como uma pessoa de caráter exemplar, extremamente educada e dedicada aos seus pacientes. Sua gestão como secretário de Saúde durante o governo do ‘Bio’ foi marcada por competência e compromisso com o bem-estar da população, legado que até hoje é reconhecido em nossa cidade. Além da iração pública, guardo por ele um profundo carinho pessoal: é um amigo leal e uma figura querida por todos que têm a sorte de conviver com ele”.
Laércio exalta também a trajetória do colega nos esportes, e sobretudo, a sua dignidade moral: “O dr. Custódio também merece reconhecimento por seu papel além da medicina: um entusiasta do esporte, incentivador da juventude e praticante de modalidades como basquete, tênis e peteca até recentemente. Sua paixão pelo esporte reflete seu espírito dinâmico e seu compromisso com uma vida saudável, valores que sempre transmitiu à comunidade. E, acima de tudo, é um homem de princípios. Um profissional que coloca a ética e o cuidado com o próximo acima de qualquer interesse material. Em suas mãos, os pacientes encontram não apenas tratamento, mas acolhimento e dignidade. Dr. Custódio é, sem dúvida, um exemplo a ser seguido”.